quarta-feira, 30 de abril de 2008

Como se fosse a primeira vez...

Olá, sou Samuel Nunes, também conhecido por Samuka. Estou na sétima fase de jornalismo. Se alguém aí quiser perder seu tempo, pode conferir algumas outras coisinhas que fiz e deixei aí pela web. Elas estão no blog que mantenho com mais dois colegas, o Aspirantes a Jornalistas.
Para a calourada do jornalismo, além do meu blog, outra dica é o que minha turma fez para o jornal Fato & Versão, sobre o trabalho infantil. Dêem uma pressãozinha na Raquel e tomem conta dele, pois foi feito para todos nós.
Boa sorte a todos nós e que este projeto dê certo. Agora, chega de encher lingüiça. Divirtam-se - ou não - com o textinho aí embaixo. Críticas e sugestões são sempre bem-vindas e podem ser feitas nos comentários do blog ou pessoalmente, lá mesmo na minha sala de aula, todas as manhãs. Abraços a todos os colegas e amigos.

“Ainda me acho um aprendiz”


Há 12 anos, o filho do pescador Licinho e de dona Eroni largava os estudos. Ele havia repetido três vezes o primeiro ano do ensino médio e isso o fez desistir da escola. Durante todo esse tempo, a vida dele continuou. O garoto cresceu, começou a trabalhar, casou, teve uma filha.


Uma vida comum, tal qual a da maioria das pessoas. Luciano Pereira Xavier, 31 anos, é vigilante. Durante quase três meses trabalhou no cargo, em uma empresa terceirizada, na Unisul em Palhoça. Hoje é no bairro Kobrasol, em São José, que exerce a mesma atividade.


Ao chegar para a entrevista, na tarde chuvosa e fria do dia 28 de abril, mais uma notícia ruim o incomodava no princípio: um parente próximo havia falecido e ele não teria muito tempo para conversar. Sua vida, que se apresenta simples no olhar sempre alegre de Luciano, esconde, porém, alguns percalços. Ele já sobreviveu a oito acidentes. “Foram seis de moto, um de carro e outro ‘de parede’”, relembra. Nesse último, ajudando na construção da casa de um parente, Luciano quase morreu. Uma parede desabou sobre o vigilante, que teve a nona vértebra fraturada, além de outras lesões, as quais, juntas, o deixaram mais de um ano em processo de recuperação.




- Quando eu estava embaixo da parede só pedia a Deus para sobreviver e poder conhecer minha filha, que ainda estava para nascer. Nem os bombeiros, quando chegaram, achavam que eu fosse sair com vida daquela situação.

Tais situações mexem com a vida de qualquer pessoa e com Luciano não foi diferente. O longo período de recuperação, as inúmeras noites dormindo sentado por causa da fratura e a dor o fizeram tirar conclusões ruins quanto a sua vida naquele momento. Nessa época, uma tia da esposa do vigilante o presenteou com um livro.

- Eu nem gostava de ler. Mas, por algum motivo, comecei e não parei mais – comenta o filho de pescador.

O incipiente gosto pela leitura, aliado a uma velha paixão por música, inspirou o acidentado Luciano. A partir do ocorrido, ele começou a escrever poemas. Logo depois, veio a filha, Larissa, mais uma fonte de inspiração para o vigilante. Em seus planos estão aulas de música. Ele, que ganhou um violão, quer fazer os arranjos musicais de seus trabalhos. E pretende, em breve, apresentar uma de suas composições à banda Dazaranha, da qual é fã.

- Eu escrevo cantando – diz Luciano, que extrai de suas experiências de vida as palavras que compõem seus versos.

Durante a conversa, que durou aproximadamente 30 minutos – o repórter prometera que não passaria de 15 -, Luciano mostrou seu trabalho. Mesmo com a notícia ruim que trouxe consigo, a alegria no seu olhar estava sempre presente enquanto contava sua vida e recitava seus poemas. Alguns chegaram a ser publicados no jornal Hora de Santa Catarina. O talento do vigilante em seus poemas rendeu ainda uma prancha de surfe e outros prêmios oferecidos por uma rádio de Florianópolis.

O mar, o amor, a religiosidade, a filha e a Ilha de Santa Catarina sempre estão presentes nos trabalhos de Luciano. Agora, ele está trabalhando em um poema, dedicado à sua mãe, para concorrer a um prêmio oferecido por um programa de TV local. Com o talento do vigilante, as chances parecem ser bem grandes. Todavia, ele se mantém humilde.

- Às vezes, comparo meus primeiros poemas com os que estou escrevendo agora. Percebo que melhorei, mas ainda me acho um aprendiz. Com o apoio de alguns amigos, os quais já haviam reconhecido o talento dele, Luciano voltou a estudar. No final deste ano, o vigilante terminará o ensino médio. Em seguida, um de seus projetos maiores: os vestibulares, para Letras, na Ufsc, e Pedagogia, na USJ. Suas proezas com as palavras são reconhecidas na aula pelos professores. Há alguns dias, ele ganhou, de sua professora de Filosofia, um livro.

- Outro dia, minha professora de Português pediu para que eu lesse um de meus poemas na aula.

Matéria produzida por mim, com foto da minha colega, Carmine Cruz, para o jornal Unisul Hoje, edição do professor - e nosso chefe - Mauro Meurer.

2 comentários:

->Marcelo Santos disse...

Grande Samucão!

Fran, disse...

Nossa, exemplo de vida.

Muito boom :)