Batalha pelo futuro dos publicitários

Professor Eloy Simões defende regulamentação da profissão no 4º Congresso Brasileiro

“Se é de batalhas que se vive a vida”, como cantava Raul Seixas, então o professor Eloy Simões tem vivido muito bem os últimos 30 anos, lutando pela regulamentação da profissão de publicitário e pela realização do 4º Congresso Brasileiro de Publicidade, que acabou ocorrendo na semana passada, dos dias 14 a 16, em São Paulo. Lá, o professor esteve presente representando a Unisul e a sua luta de três décadas.

A luta de Eloy reflete uma necessidade para a prática da publicidade. Hoje qualquer um pode trabalhar na área, sem que seja necessário qualquer tipo de formação específica. Para o professor, isso se mostra desfavorável para quem atua na profissão em casos como os do escândalo do mensalão, ocorrido há dois anos, em que um empresário, dono de uma agência de publicidade, foi o grande pivô de uma rede de desvio de recursos públicos. Além de também reduzir o nível da profissão no Brasil.

- O fato de a profissão não ser regulamentada abre espaço para que muitos picaretas e amadores tomem conta do mercado, diminuindo o espaço do profissional capacitado – argumenta o professor.

Do outro lado, há uma corrente de pessoas que são contra a regulamentação, dentre eles, membros da Associação Brasileira das Agências de Propaganda (ABAP). O argumento é de que a publicidade é um campo aberto a várias áreas de conhecimento e a regulamentação só faria reduzir a profundidade e o alcance das campanhas.

Durante a comissão “A Educação, a Profissão e o Mercado”, dentre as teses propostas, uma ia contra a regulamentação da profissão. “Quando eu li os nomes dos participantes já previ o que ia acontecer. No início de julho, escrevi um artigo comentando isso e o guardei”, conta o professor, que leu o mesmo trabalho na comissão.

A intervenção do professor, então, causou uma grande movimentação dentro da comissão, a qual, em seu relatório, acabou se considerando inapta para definir os rumos da questão e sugeriu a formação de uma Comissão Permanente, que fosse regida pela ABAP, a qual deveria cuidar desse tema.

Eloy acredita que a regulamentação beneficiaria principalmente duas classes: a dos profissionais, que já estão no mercado e precisam de algum tipo de proteção que lhes garanta vagas de emprego, e a dos estudantes de publicidade e propaganda, pelo fato de que hoje falta espaço para muitos deles no mercado de trabalho. Entretanto, o professor conta que, durante a discussão, se havia algum estudante na platéia que assistia, até então, passivamente o debate da comissão, nenhum teve coragem de se manifestar. Ele lembra que o mesmo aconteceu no Senado, quando houve uma audiência pública sobre a mesma questão. Hoje, há no Congresso Nacional uma proposta para que a regulamentação ocorra, mas a discussão está parada.

- Infelizmente, muitos dos estudantes que eu vi durante o congresso se preocupavam mais em tirar fotos com o Justus (Roberto Justus, dono de uma agência de propaganda e host de um programa de televisão onde contrata executivos e sócios para suas empresas) do que debater as questões que são essenciais para eles. Acho que ainda falta uma liderança efetiva dos estudantes para se ganhar essa guerra – avalia o professor.

A ida do professor ao Congresso de Publicidade não foi fácil. Apesar de ser um dos nomes que mais lutaram pela realização do evento, ele quase ficou de fora, devido os custos para tal empreitada serem muito altos. Mas nem isso foi suficiente para tirá-lo dos corredores do local onde ocorreu o congresso.

- Eu estou há 30 anos lutando por uma causa e, na hora de decidir, não poderia ficar de fora. Não ganhei a guerra, mas ao menos ela empatou – finaliza Eloy, o qual, ainda seguindo Raul Seixas, nunca diz “que a vitória está perdida”.