Então, pra ajudar a agitar a vida do blog vou deixar uma crônica de minha autoria. Enfim, não é nada profissional ou coisa do gênero, apenas é o que é!
Antunes
Clarões de idéias, pensamentos que fluíam, um ir e vir na imaginação de Antunes. Antunes não era um cara qualquer. Era o cara das idéias. Suas idéias absurdas mexiam com o imaginário desse pobre homem. Pobre sim. Pobre de vida! E rico em idéias! Poderia muito bem pô-las em prática. Porém não sabia como seria possível esse feito. Pois eram tantas e tão desconexas, que juntar todas levaria muito tempo e trabalho. E tempo para Antunes era precioso. Tempo que ficava a vagar para juntar suas idéias era tempo de trabalho. E seu trabalho era muito pesado, não disporia de horas extras para fazer esse tal feito. Seu trabalho era o ócio, que o levava a pensar. Uma coisa puxava a outra e lá estava Antunes outra vez em sua rede, em seu barquinho de pau caindo aos pedaços. Não pescava como outrora, sequer levantava de seu canto para mijar. Vivia assim. Deitado em seu barco, pensando. Os outros antigos colegas que se aproximavam, perguntavam com ar curioso o que Antunes estava fazendo ali, parado em sua rede, cabisbaixo olhando o horizonte. Ele dizia calmo, plácido que estava a pensar. E os outros saíam a pescar seu almoço, quem sabe beber umas cachaças com os outros colegas de oficio. Saiam mudos matutando consigo mesmo o que diabos Antunes tanto pensava. Antunes pensava resoluto em suas idéias, se fosse alfabetizado como deveria nos tempos de criança poria todas essas coisas que ficam dentro da cabeça pra fora. Toda essas coisas que faz os dias e noites e dias e noites serem como são. Antunes mais parecia um vegetal, mal comia e dormia pouco. Ficava assim, estatelado na rede pensando, pensando e pensando. Suas idéias eram como pequenos pedaços de vidro, se juntassem formaria um lindo mosaico de cores e formas diferentes. Porém, o mosaico nunca ficaria pronto. Remoendo e modelando o cérebro desse humilde homem, suas idéias mais pareciam clarões que a qualquer momento iam se desvanecendo como grandes nevoeiros, que aparecem para causar tormenta. Ah! Se tivesse freqüentado escola como muitos outros espalhados por ai. Poderia ter feito o que quisesse! Agora, suas idéias já estariam no papel. Todas elas. Com aquelas letrinhas miúdas que somente “dotô sabido das idéia” sabem fazer! Não tinha família. Os pais morreram cedo. Morte morrida com alguns revertérios no estômago. O único amor que sobrara era o de Mariazinha, moça bonita e respeitosa que conheceu nos tempos de moço. Era a mulher da sua vida. Pena que ele não era o homem da vida dela. Mariazinha casou com um outro qualquer e Antunes continuou ali, sozinho e pensativo. Resoluto em seus pensamentos. Antunes desde muito cedo aprendera o ofício de pescador com o tio, Seu José Ninguém aquele da casinha de madeira ali embaixo. Enquanto os “futuros dotô” iam aprender o bê-á-bá, a tabuada e o caralho a quatro, Antunes aprendia a jogar aquela rede com seus imensos quadriculados feitos a mão, esperando resignado os peixes que estavam por vir. Quando guri ficava feliz com a idéia de ser pequeno, mirradinho e já poder ir atrás de comida pra ajudar seu tio e encher a barriga cheia de vermes. Algumas vezes ia a outros bairros trocar os peixes por um punhado de farinha e feijão. Porém, nada tirava da cabeça dele que queria estudar e aprender, aprender e estudar, estudar e... “vira dotô”. “Diacho de vida! Se ao menus entendesse um pouco desses símbulu miúdu de dotô feito na vida já ia intê tê inscrito umas história que fica aqui matutando a cabeça da genti. Imangina botá aquelas capa dura, fineza nos último naquelis tar livru que exinste, não têm?”
Antunes, a cachaça, a rede, seu barquinho de pau e algumas mulheres. Antunes e o barquinho. Antunes e a cachaça. Antunes e as mulheres. Agora era só Antunes, a rede e as idéias. Antunes era seu nome. Antunes, com calça esfarrapada, suja e cheirando a peixe. Antunes, alguns dentes e sem carteira de identidade. Antunes, analfabeto com trinta e dois anos. Antunes com um turbilhão de idéias, caóticas e desconexas.
Antunes, pobre Antunes.
Aline Takaschima 1º Fase.
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5 comentários:
booooooooooa line.
beijos, lulu.
Opa, gostei!
Além de jornalista e atriz, pode ser cronista tb!
;)
Pobre Antunes...
De 62 linhas, achei apenas um erro (faltou uma vírgula). Realmente, eu me impressiono com a qualidade dos textos que são produzidos já na 1ª fase. "Na minha época" tinha professora que botava o texto, produzido pelo aluno, no refletor e ironizava:
- Sou graduada, mestre e doutora, mas só recebo metade do que mereço por estes diplomas; tenho que vir todo dia até a Palhoça de manhã cedo no frio; (outros problemas pessoais que não lembro). Mas a pior coisa é passar um filme, debater ele em sala, pedir para a turma fazer uma dissertação sobre o mesmo e ainda ter que aturar isto (se referindo a um texto cheio de erros assinalados por ela).
Apesar de eu não concordar com tal atitude - tinha aluno que chegava a chorar nestas ocasiões - agora eu entendo a raiva da professora.
Desculpe eu usar de tanto bla-bla-bla só para dizer: "Tá muito bom, parabéns".
Um dia eu ainda vou conseguir escrever tão bem assim, se Deus quizer *-*
muito bom ;)
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