domingo, 18 de maio de 2008

Torcedor

Eu to sentindo a falta de trabalhos publicados. Os poucos posts estão se destinando somente a indicação de alguma coisa (site, matéria, curiosidade) . O Blog também existe para isto, mas acho que o pessoal devia aproveitar pra botar aqui o que vêm produzindo em sala de aula (ou para o estágio, quem já ta fazendo).
Ai vai mais um texto que eu produzi para "Técnicas de Reportagem" e adaptado para blog.


És torcedor?

Dia ensolarado, com aquele calor que chamariam de insuportável. É sábado de manhã na ilha de Santa Catarina, dia internacional da mulher, mas ninguém parece estar comemorando, nem mesmo as mulheres. Algumas ganharam rosas.

Enquanto estou na banca procurando por alguma revista interessante para leitura me ocorre que também hoje é dia de jogo, é dia de Figueira. Eis que no momento que este pensamento surge em minha mente, se materializa também um suposto o torcedor do Figueirense na porta do estabelecimento..

O provável alvinegro foi na banca de revista não em busca de uma leitura, mas sim atrás do encurtador de vidas portátil, o “careta”. E é tragando este careta que ele desce a rua que começa na banca e termina no mercado público, seu destino. Passando pelos vendedores de DVDs falsificados; pelas pessoas que cruzam o seu caminho sem o mínimo trabalho de olhar se vem alguém na direção contrária. Chegando no mercado, o talvez torcedor de cerca de quarenta anos, pele rosada e cabelos loiros, passa pelo primeiro setor do mercado, onde se vendem peças vestuárias de segunda mão e pelo segundo setor, onde há as mesas e as pessoas comendo sua tradicional feijoada e finalmente chega ao lugar onde pretendia.

Nesta parte do Mercado Público se encontram diversas peixarias e bares onde se reúnem geralmente homens de 25 anos para mais, cansados de uma semana dura de trabalho ou da falta dele. É já no primeiro bar do lado esquerdo que cumprimenta alguns conhecidos e vai ao balcão pedir o chamado camarão recheado.

“Pra mim também”. Na hora o alvinegro me fita e pergunta se me conhecesse de algum lugar. Como dizer que eu o havia seguido desde a banca de jornal não me pareceu uma boa idéia, pensei em algo que fizesse sentido e me ajudasse na minha intriga: “deve ser do jogo do Figueira”. Ele se virou sem dizer nada, botando em xeque a minha hipótese.

Toda a minha refeição foi dedicada a analisar a dele em busca de algum indício que realmente comprovasse que o tal sujeito era admirador da equipe que hoje reside no estreito. Seus assuntos com os amigos, que trajavam camisetas regatas ou camiseta alguma, se resumiam a relembrar os últimos encontros neste mesmo estabelecimento, típico boteco de sábado à tarde com as mais variadas bebidas expostas, mais da metade delas eu nunca vi ninguém beber.

Depois de umas cervejas que tomava pra matar o tempo em busca da resposta da minha dúvida eu nem mesmo lembrava o que me mantinha ali naquele bar até àquela hora. De pronto paguei a conta, me levantei, mas quando ia saindo meus ouvidos captam aquele que eu perseguia fazer a seguinte indagação a outro companheiro: “vais querer carona pro jogo?”.

Eu paro, olho para o homem e reflito por um momento até entender a relevância do que havia escutado. Ele nota a minha indiscreta observação e me questiona se havia algo me incomodando.

-Não mais.

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